segunda-feira, 7 de julho de 2008

CARTA ABERTA

06/07/2008
O que está acontecendo com a Educação Municipal em BH?

É de domínio público que a ensino oferecido pela Rede Municipal em Belo Horizonte está em crise – e me desminta quem for capaz! Estamos perdendo, a cada dia, mais e mais alunos, principalmente para a Rede Estadual, e até para a Rede Particular, quando os pais espremem seus orçamentos para pagar um ensino de qualidade para os filhos.
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Os próprios professores da RMBH, em sua grande maioria, não colocam seus filhos nas escolas municipais. Um atestado de que as coisas vão mal! Meus filhos já estudaram no Colégio Marconi, no IMACO, na E.M. Artur Versiani Veloso... Hoje, eu não os colocaria numa escola municipal. Escolheria uma escola estadual ou apertaria meu parco orçamento para pagar uma escola particular.
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Primeiramente, atribuo essa situação de crise à administração petista, que, desde que assumiu o “poder” em 1994, até os dias atuais, vem impondo o modelo Escola Plural, que já deu todos os indicadores de ser um verdadeiro equívoco pedagógico. A filosofia que sustenta a escola Plural é emocionante, chega a provocar lágrimas nos idealistas! Mas sua prática nos mostra, entre outros, dois aspectos preocupantes: a formação de analfabetos funcionais e o a exclusão de seus alunos no mercado de trabalho. Mas o PT insiste neste modelo fracassado. Imagino que Paulo Freire esteja se contorcendo no túmulo, porque ele achava que “o problema do radical é a ausência de dúvida.”
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Ao levantar o lema de que está promovendo a inclusão, colocando no mesmo espaço alunos com toda sorte de deficiências, a Escola Plural está promovendo, cada vez mais, a exclusão dos mesmos, porque não atende bem nem o aluno dito “normal” nem o deficiente. Grosso modo, é uma forma de baratear e sucatear a educação e cumprir o compromisso de oferecer educação fundamental, fazendo-o de forma mais econômica para os cofres públicos, pois não há repetência; o aluno sai de qualquer forma, sabendo ou não sabendo, e recebe o seu “diploma”. Sou a favor da inclusão, mas em outro moldes, bem diferente dessa pseudo-inclusão da PBH.
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Mas até nessa política da PBH há uma contradição: na tentativa de levar até o fim esse modelo educacional equivocado – porque o PT não tem a humildade de reconhecer seus equívocos e corrigi-los – a SMED lança mão de estagiários, que ainda não estão capacitados e avaliados, para acompanhar individualmente os alunos com deficiência física, tendo aí um gasto bastante questionável. Não seria melhor que as escolas tivessem uma estrutura física e profissional mais ampla, com psicólogos, assistentes sociais e orientadores educacionais para assistir esses alunos? É justo e correto dar ao professor regente a tarefa de ensinar para uma turma de 30 (no mínimo) alunos e ainda dar conta dos alunos com deficiências múltiplas. Há que se mencionar que deficiências como Síndrome de Down e Dislexia e, ainda, patologias como Esquisofrenia e neuroses diversas não dão direito a estagiários. Outras questões importantes: a falta do tempo para reuniões pedagógicas, que foi extinto, e o tempo do aluno de apenas 4:30.
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Para dar emprego aos “companheiros”, o PT enche as regionais e a SMED de profissionais de competência duvidosa e de capacitação inadequada (com poucas exceções) para as funções que ocupam, a começar pelo Secretário de Educação que não é um educador!
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Recentemente, enviei uma carta ao Secretário de Educação, Hugo Vocurca, e ainda não obtive resposta. Imagino que o motivo dessa indelicadeza seja a falta de conhecimento dele sobra aspectos educacionais e administrativos (da Educação), que eu questionei, e pelo pouco valor que dá a um professor. Acredito, na melhor da hipóteses, que ele esteja reunindo a sua equipe para se inteirar do assunto, antes de me dar uma resposta.
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Um outro fato grave é a extinção da Supervisão Pedagógiga e Orientação Escolar. Os professores de áreas específicas conseguiram, durante as campanhas salariais, acabar com os cargos de Supervisor e Orientador nas escolas municipais – as únicas que cometem esse absurdo e desrespeito ao Pedagogo, principal especialista em Educação. Conseguiram legitimar, internamente, uma organização escolar em que qualquer professor de área pode se eleger Coordenador Pedagógico - um cargo que não existe legalmente !!! - eliminando assim o Supervisor. Desde 1990, a PBH não realiza mais concursos para Supervisão, Orientação e Administração Escolar, pressupondo que o Pedagogo é uma figura dispensável. Segundo fala da ex- Secretária de Educação Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, o “curso de Pedagogia é o único que forma profissionais para vigiar os outros”. Isso ninguém me contou, eu a ouvi dizer esse absurdo, pessoalmente, quando fui sua Coordenadora na E. M. Caio Líbano Soares. Eu me contraponho totalmente a essa fala e penso que o professor que se candidata a Coordenador, visa, basicamente, sair de sala de aula. E o mais incrível: esse seu tempo fora de sala de aula, que muitas vezes acontece por longos anos, é contado como regência de classe para fins de aposentadoria!!! Um corporativismo sem precedentes na história da Educação.
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Acredito que uma das principais causas do ensino municipal estar tão deficiente é justamente a falta de pedagogos nas Escolas, desempenhando o importante papel de articuladores do currículo, de promotores de um planejamento de curso anual, devidamente supervisionado e estimulado, tanto na execução quanto na avaliação dos resultados. Defendo, enfaticamente, o retorno de concursos para Supervisão Pedagógica e da Orientação Escolar. A dita Coordenação Pedagógica que existe atualmente nada mais é que uma Coordenação de Turno. Falta, essencialmente, a figura importante do Pedagogo, repito, o principal especialista em educação. Usando aquele velho ditado popular: “cada macaco no seu galho”, ou seja, professores em sala de aula e pedagogos na Supervisão e Orientação. Só na PBH é que isso não acontece; por coincidência, o ensino municipal vai de mal a pior. A desculpa é de que “ a clientela é carente”, mas até para isso é necessário um Plano de Curso adequado, que o pedagogo sabe articular com a competência de sua formação, porque tem a visão do todo, das injunções do contexto situacional e cultural, do levantamento dos objetivos para se atingir habilidades e competências, das estratégias didáticas para se alcançar tais objetivos e das formas adequadas de avaliação para cada fim.
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ENQUANTO A MUDANÇA NÃO VEM, VAMOS LUTANDO COM AS PALAVRAS, NOSSA ARMA DE PROTESTO.

NADJA NEVES ABDO - PROFESSORA PEDAGOGA DA REDE MUNICIPAL DE BH

Um comentário:

MARIA TERESA disse...

Sou educadora Infantil da Rede, pedagoga e pós-graduada em Educaçao Infantil e vivo "na pele" o descaso com os profissionais, a coordenação pedagógica que não atende às reais necessidades, colocando os próprios professores e educadores uns contra os outros, gerando um ambiente de competiçao, fofoca e desmandos...vivemos o "caus", professores adoecendo, uma organizaçao de "tapa-buraco"; penso seriamente em buscar outro caminho, infelizmente sinto-me desmotivada, infeliz, esgotada, humilhada, a ponto de ouvir dos pais que "ser professor é muito ruim, pois com 3 faxinas semanais ganham melhor e nao precisam suportar tantos meninos sem educaçao (sem limites) chutando ou cuspindo nos seus professores", para nao dizer muito mais. Nao adianta jogar as crianças e adolescentes dentro de salas em uma política assistencialista, sem pensar em "qualidade", a começar pela valorizaçao dos Profissionais em Educaçao; faço das palavras de Nadja Neves Abdo, as minhas. Escreveu muito bem sobre o panorama de quem só visualiza quando está dentro do campo de batalha.