quinta-feira, 10 de maio de 2012

Professor Coordenador Pedagógico da RME/BH


Texto inicial sobre a discussão do Professor Coordenador Pedagógico na RME/BH[1]



                As sensações são derivadas de ações, gestos ou palavras que nos levam a deduzir que algo está sendo modificado. Estas mudanças, de alguma forma, acabam por nos atingir. Se para o bem ou para o mal é uma questão de identidade com o que somos e o que queremos. Segundo Paulo Freire a educação necessária para a prática docente que liberta e transforma a sociedade é aquela que é construída de forma autônoma, com respeito à liberdade e com um amadurecimento crítico. Assim, a educação escolar, realizada no "chão da escola", precisa ser entendida como um trabalho docente que vai além da sala de aula, estreitando seus laços com a coordenação pedagógica e direção da escola. Ela se manifesta nos diferentes sujeitos escolares e se apresenta como uma forma de intervir no mundo e  "para que a educação não fosse uma forma política de intervenção no mundo era indispensável que o mundo em que ela se desse não fosse humano" (FREIRE, p.69)[2].

            Então é preciso falar sobre um professor que possui destaque no fazer pedagógico das escolas, que possui diferentes representações, mas que está cada dia mais sendo foco das políticas de intervenção da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte (SMED/BH): o professor coordenador pedagógico. E o resultado dessas políticas aprofunda o que de pior pode acontecer a um professor: ter a sensação de não poder mais controlar o seu trabalho, o seu fazer pedagógico.

Recentemente, observamos que a SMED/BH está intensificando o controle sobre o trabalho docente seja através do quantitativo das avaliações externas[3] nas escolas, seja pelas planilhas de planejamento. Se por um lado os acompanhantes pedagógicos surgiram para executar tal controle sobre a rotina do trabalho docente, por outro a SMED/BH sinaliza para a utilização do professor coordenador pedagógico como mais um elemento a serviço desse controle.

As escolas estão sofrendo uma forte ingerência por parte da SMED/BH, pois as instâncias democráticas de deliberação, como o Colegiado e a Assembleia Escolar, são desrespeitadas quando há uma imposição externa para a mudança da organização escolar. Como exemplo disso, tivemos recentemente a obrigatoriedade de aplicação do Avalia/BH «prova diagnóstica» sem consultar a comunidade escolar, justamente no período em que as escolas estavam se organizando para as avaliações internas do primeiro trimestre. Muitas direções de escola e professores coordenadores pedagógicos aceitaram está interferência externa sem construir conjuntamente um espaço de resistência e reflexão sobre tal imposição da SMED/BH.

A cada momento fica mais evidente a pretensão da SMED/BH em transformar o professor coordenador pedagógico numa espécie de "gerente educacional" impulsionado pela obcessão de cumprir metas e indicadores de qualidade, incorporando e transferindo dessa forma, mesmo que inconscientemente, o sentimento responsabilização pelo desempenho alcançado pela escola. Direta ou indiretamente é inserido um pensamento de que as limitações da função de professor coordenador pedagógico estão nas diversas resistências implementadas pelos professores da escola. Porém, poucos professores coordenadores pedagógicos percebem que a ampliação do quadro de professores é uma das pistas essenciais para começarmos construção de um espaço de discussão e reflexão do fazer pedagógico.

Nos últimos encontros da SMED/BH com os professores coordenadores pedagógicos o ponto de discussão ficou em torno da necessidade de se construir as atribuições que serão exercidas pela equipe de Coordenação Pedagógica, permeando assim a urgência de se ter um perfil único. Se por um lado esta decisão apresenta uma necessidade da SMED/BH buscar um perfil de um educador para ocupar a coordenação pedagógica, por outro se alinha a uma lógica que limita as possibilidades do fazer cotidiano nas diferentes escolas da RME/BH. Assim, criar o perfil para ocupar tal função é desqualificar todo o processo democrático construído pela RME/BH ao longo dos anos, além de deixar claro que as diretrizes apontadas passam a ser o ideal de coordenação pedagógica que a SMED/BH quer construir, buscando legitimar tais diretrizes ao consultar apenas os professores coordenadores pedagógicos.

É também preciso repensar as reuniões que acontecem com a equipe da SMED. Assim, se cada escola é convocada a participar dos encontros, podemos deduzir que o professor coordenador pedagógico e mesmo a direção da escola estarão representando as demandas trazidas por seus colegas para a SMED e não apenas as suas próprias opiniões. Mas isto tem acontecido? Em qual tempo, antes das reuniões com a secretaria, estes professores coordenadores escutam seus pares para que a pauta seja construída, levada e apresentada?

É preciso retomar com mais autoridade o lugar da gestão democrática tão discutida nos documentos e pouco respeitada pela SMED em suas formas de agir, é preciso atentar para o problema da aceitação de ordens sem o estranhamento, sem a discussão com o grupo. É preciso entender que a escola não é uma fábrica.

Assim, algumas questões se apresentam: a retomada do Congresso Político-Pedagógico enquanto espaço deliberativo das políticas educacionais a serem implementadas na RME/BH, com a participação dos diversos segmentos da Comunidade Escolar; a discussão sobre a quantidade de avaliações externas, além da função das mesmas no cotidiano escolar e a sobrecarga de trabalho no corpo docente da escola (professores e professor coordenador) ao terem que aplicar, corrigir e lançar os resultados e, finalmente, é preciso intensificar a luta pela ampliação do quadro de professores nas escolas, única solução para que o pedagógico caminhe respeitando todos os sujeitos inseridos no espaço escolar.







[1] Texto elaborado por Wanderson Rocha e Diana Silva com perspectiva de lançar um debate preliminar sobre o papel do professor coordenador pedagógico na Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte (RME/BH).
[2] Paulo Freire. Título: Pedagogia da Autonomia. Ano da Publicação Original: 1996.
[3] Neste caso, as metas a serem atingidas com o Sistema de Avaliação da Educação Básica « foco principal é Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB», bem como as avaliações externas organizadas pelo governo de Minas Gerais (SIMAVE), pelo Município de BH (AVALIA/BH).

Nenhum comentário: