terça-feira, 1 de setembro de 2009

Plano exige qualificação de professores e escolas

Ana Paula Lima e Augusto Franco
Repórteres
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Garantir estrutura física adequada e profissionais capacitados em número suficiente são tarefas que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) terá que cumprir para aumentar a qualidade de ensino na capital mineira, até 2012. Os desafios virão no rastro da ampliação de vagas na Educação Infantil e no Programa Escola Integrada, duas das metas previstas no Planejamento Estratégico para BH, anunciado na semana passada pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB). Mas, se superados, também terão impacto direto sobre outros objetivos ligados à educação, como reduzir a reprovação, melhorar o desempenho dos alunos em avaliações nacionais e ampliar a escolaridade média dos belo-horizontinos para 11 anos - o último item, uma conquista esperada para daqui a duas décadas.
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O conjunto de compromissos tem prazo para ser atingido: o fim da atual gestão municipal, daqui a 40 meses. Na educação, prevê passar de 15.192 para 59.192 as crianças de 0 a 5 anos e seis meses atendidas na Educação Infantil (EI), e de 15 mil para 65 mil os alunos beneficiados pelo Escola Integrada, programa que amplia a permanência dos jovens no ambiente escolar por meio de atividades esportivas, de lazer e educativas. Outras metas são aumentar as notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), na 5ª e 9ª séries. O indicador aponta o rendimento escolar, a partir de provas aplicadas no país inteiro.
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Cristiane Morais, 25 anos, nunca ouviu falar no Plano de Metas da PBH, mas sonha com uma das promessas: ver o número de vagas na EI da rede municipal aumentar. Mãe de Wesley, que completa quatro anos neste mês, ela mora no Bairro Felicidade, Região Norte da capital, e não conseguiu matricular o menino na escola neste ano. O jeito foi manter o garoto em casa e entrar para a lista de espera do ano que vem. “Meu marido ganha um salário mínimo e eu não consigo emprego. Não temos como pagar uma escolinha particular”, lamenta.
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A situação é a mesma de 80 famílias interessadas em uma das vagas nas duas turmas de EI que a Associação Comunitária do Felicidade (Abaf) mantém, com a ajuda da PBH. Parte das crianças do bairro também é atendida pela Unidade Municipal de Educação Infantil (Umei) do Jardim Guanabara. Mas, ainda assim, a demanda é muito maior, diz a diretora da Abaf, Laurinda Aparecida de Jesus. “Não é só uma questão de colocar a criança na escola e permitir que a mãe trabalhe fora. Nas turmas de 4 e 5 anos, os meninos têm atividades pedagógicas, aprendem a se socializar e desenvolvem a coordenação motora. Na 1ª série do Ensino Fundamental, a diferença entre o aluno que esteve na Educação Infantil e o que nunca foi à escola é clara”, diz a líder comunitária, que espera que o Felicidade ganhe o quanto antes sua Umei, prometida desde 2007.
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A coordenadora do Curso de Especialização em Docência no Ensino Superior do UNI-BH, Tereza Cristina Alves de Mello, concorda com a importância da EI. “É a primeira etapa da Educação Básica. Permite o desenvolvimento da criança nos aspectos cognitivo, afetivo e social e influencia o êxito do aluno nas fases futuras”, ressalta. Quanto à Escola Integrada, a educadora defende a ampliação de vagas, mas diz que a infraestrutura oferecida tem que acompanhar o aumento. “Não pode ser só recreação. A escola é, antes de tudo, um ambiente de aprendizagem. Se não houver atividades educativas, o programa perde o sentido”, diz a professora, afirmando que é preciso investir também na ampliação do espaço físico dos colégios e na capacitação de pessoal para atender aos estudantes fora do turno convencional.
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Pais devem estar mais presentes
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Já o caminho para aumentar o rendimento dos alunos extrapola os portões da escola. “Os governos federal e estadual precisam se aliar aos municípios, ajudando com material de formação para os professores. Os educadores também precisam ter acesso a cursos de atualização”, diz Tereza de Mello. Ela, que também é professora do Curso de Pedagogia do UNI-BH, cobra ainda a participação dos pais na vida escolar dos filhos. “Muitas crianças faltam às aulas sem motivo. Hoje, há uma inversão no papel da família, que muitas vezes se omite e transfere suas responsabilidades para a escola”, afirma.
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Para o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública de BH (Sind/Rede), Robson Torrezani, investimentos nos colégios e professores são urgentes, mas não desobrigam a necessidade de se articular amparo às crianças nas áreas da saúde e social. “Precisamos de uma rede de apoio social. A comunidade tem que ter médicos, psicólogos e conselheiros tutelares para atender alunos que são vítimas de violência doméstica e têm famílias desestruturadas, desvios de conduta e de aprendizado. Esse suporte também favorece a aprendizagem. E quem aprende, não falta à aula e não abandona os estudos”.
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A dificuldade em conseguir uma vaga para o neto acabou obrigando a dona de casa Lourdes Martins Rosa, 54 anos, moradora do Bairro Jardim Felicidade, a tomar conta do neto Juan Pablo, de cinco anos. Ele morava com os pais em Esmeraldas, mas, depois da separação, a mãe do menino, filha de dona Lourdes, acabou voltando para casa.
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“É difícil, porque além de lavar, passar, cozinhar e arrumar a casa, onde moram oito pessoas, tenho que tomar conta dele, que é muito agitado”, diz . “Se ele estivesse na escola, nem que fosse meio horário, a mãe dele podia arrumar uma pessoa. Mas ela não pode largar o trabalho, então a gente tem que ficar deste jeito”, lamenta.
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O problema é semelhante ao da vizinha Inês Soares de Oliveira, 33 anos. A filha Letícia, de três anos, estudava na Umei Jardim Felicidade, mas foi diagnosticada com um problema de coração. Depois de seis meses no hospital, tentou retornar à escola, mas sua vaga já havia sido preenchida. “Coloquei o nome dela na fila de espera, mas não sei se vou conseguir. Por enquanto, não posso nem procurar emprego. Antes, fazia faxina, ajudava em casa. Se eles realmente aumentarem as vagas, como estão prometendo, vai ser muito bom”, avalia.
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De acordo com a secretária de Educação de Belo Horizonte, Macaé Evaristo, a ampliação da nova rede em 40 mil vagas é um grande desafio, mas os recursos para as novas unidades estão garantidos. “Com a mudança definitiva do Ensino Médio para a responsabilidade do Estado, até o final de 2010, conseguiremos focar nas novas unidades e na ampliação da Escola Integral”, alega.
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De acordo com dados da Superintendência de Rede Física da Secretaria de Estado da Educação, em Minas, nos últimos dez anos, há uma tendência de queda no número de matrículas de quase 10% ao ano. A lógica se repete em BH, onde a rede instalada é ligeiramente maior que a quantidade de alunos. A razão seria a redução da taxa de natalidade no Estado.
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