NÁDIA HELENA BRAGA
Professora da rede municipal de ensino de Belo Horizonte
Leio muitos artigos sobre a educação no Brasil que são publicados em revistas de grande circulação. Às vezes, fico revoltada com o que leio porque os autores desses artigos ficam muito presos a estatísticas e pesquisas acadêmicas.
É muito comum apontarem que o baixo rendimento dos alunos estaria na formação deficiente dos professores, que não saberiam motivar seus alunos nem preparariam suas aulas com antecedência. Mas, nas pesquisas, não é relatado o que, na realidade, ocorre dentro de uma escola e que fatores são os grandes determinantes do baixo rendimento escolar.
A maioria dos alunos é indisciplinada, não traz o material necessário para as aulas, não cumpre os deveres de casa e, durante as aulas, não presta atenção às explicações e fica conversando o tempo todo. Muitos não dão importância aos estudos e alegam que estão na escola porque os pais obrigam.
As brigas entre alunos acontecem com muita frequência; são violentos e se agridem verbalmente com muitos palavrões. A escola, para esses alunos, serve como refúgio - uma ilha de segurança. Ela é utilizada como praça pública, onde o que menos interessa é estudar e adquirir conhecimento. O ambiente é utilizado pela maioria para a socialização, para namorar e, às vezes, para o uso de drogas. Muitos não têm respeito pelos professores, que são agredidos verbalmente e, às vezes, até fisicamente. O pior de tudo é que, no fim do ano, esses alunos são premiados com a aprovação compulsória nos anos iniciais do ciclo.
Com alunos comprometidos, sem disciplina em sala de aula, é um desafio prover educação de qualidade. Dentro de um ambiente cheio de conflitos, os bons alunos são muito prejudicados, já que não conseguem ter uma aula de qualidade. O professor não consegue alcançar seu objetivo. É certo que, quando estamos trabalhando com turmas de bons alunos, em que a aula acontece da forma como foi programada, sentimos-nos realizados e valorizados.
Diante desse triste quadro, nós, professores, sentimos-nos completamente desmotivados.
O índice de adoecimento da classe é alto. As escolas estão funcionando, muitas vezes, com um alto grau de absenteísmo entre professores. Às vezes, as turmas ficam grandes períodos sem o docente de determinada disciplina, substituído por colegas que, simplesmente, "tapam o buraco". Muitos professores estão deprimidos, sem condições de exercer o bem mais precioso que Deus nos deu: o trabalho.
Fica aqui o convite aos pesquisadores em geral: que eles venham para dentro das escolas, fiquem um bom período trabalhando como professores para poder compreender o que realmente acontece; a partir daí, poderão avaliar melhor a baixa qualidade do ensino na escola pública.
Hoje, o professor trabalha em péssimas condições. Por isso, fica a pergunta: como mudar essa situação? Continuaremos à margem da educação de qualidade?
Fonte: Jornal OTempo
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