sábado, 21 de novembro de 2009

Reprovação está de volta nas escolas municipais de Belo Horizonte


Secretaria Municipal de Educação sepulta a Escola Plural, modelo que não reprovava o aluno, e adota novos critérios. Mudança pega estudantes de surpresa e gera apreensão

Ernesto Braga - Estado de Minas
Publicação: 21/11/2009 09:24
Atualização: 21/11/2009 09:49

Luan Barbosa, Victor Tadeu, Cleiton Domingos e

Valdemar Junior estão preocupados com o novo método

A Escola Plural, modelo adotado em Belo Horizonte em 1995, polêmico por não reprovar os alunos do ensino fundamental, acaba de ser sepultada pela Secretaria Municipal de Educação (Smed). Pela metodologia de ensino, só estavam sujeitos à reprovação os estudantes do último ano do 3º ciclo (correspondente à 8ª série) que tivessem no boletim conceitos D (30% a 49% de aproveitamento) e E (abaixo de 30%) em pelo menos três das 10 disciplinas, em cada trimestre. De agora em diante, basta um D ou E por trimestre para que ele tenha que se submeter ao regime de recuperação. Se a nota continuar baixa, o aluno toma bomba. Ou seja, só passa para o ensino médio quem tiver aproveitamento A (86% a 100%), B (66% a 85%) ou C (50% a 65%). As novas regras já estão em vigor nas 184 escolas municipais de BH.
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Elas representam, segundo a secretária municipal de Educação, Macaé Evaristo, melhoria na qualidade do ensino. “Os estudantes que ficarem com D ou E terão a oportunidade de melhorar o conceito na recuperação paralela. Caso contrário, ficarão retidos. Vale lembrar que o conselho de classe, formado por todos os professores da escola, acompanha o aprendizado do aluno e é quem dá a última palavra em relação aos conceitos”, ressalta a secretária. Embora a regra valha apenas para o último ano do 3º ciclo, possíveis casos de reprovação em mais de um ano, no mesmo ciclo, serão analisados pela direção, corpo docente e equipe de acompanhamento pedagógico da Smed.
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A mudança causa apreensão nos estudantes que estão prestes a concluir o ensino fundamental. Alunos da Escola Municipal Artur Versiani Velloso, no Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul de BH, Valdemar Júnior, de 16 anos, Luan Barbosa, de 18, Victor Tadeu, de 17, e Cleiton Domingos, de 17, estão preocupados com as novas regras. Com exceção de Cleiton, os demais têm conceitos D e E em seus boletins. “Não sabemos se teremos condições de passar de ano e se vamos nos formar com o restante da turma”, disse Valdemar. “Acho que deveriam ter deixado para mudar no ano que vem”, disse Victor. Cleiton tem a mesma opinião: “Isso pode desestimular os alunos que já tiram conceitos baixos durante o ano e eles podem abandonar as aulas”.
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Impasse
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Macaé admite que o índice de reprovação vai aumentar este ano com as novas regras. Em 2008, 47,8% dos alunos do turno da noite e 8,8% do período diurno tomaram bomba. “Vamos ter que viver esse impasse em BH. Durante muito tempo foi cobrada essa mudança e ela veio para melhorar a qualidade do ensino”, diz a secretária, que admitiu também o fim da Escola Plural na gestão do prefeito Marcio Lacerda (PSB). Mas a medida foi comemorada pelo presidente da Federação das Associações de Pais e Alunos das Escolas Públicas de Minas Gerais (Fapaemg), Mário de Assis. “Os alunos ficaram acomodados com o fim da bomba e esse comodismo refletiu entre os pais. Para que vou cobrar que meu filho estude se ele não vai ser reprovado? O resultado é uma grande quantidade de analfabetos diplomados.”
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O professor emérito da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Miguel Arroyo, que coordenou a implantação da Escola Plural na capital, critica a postura da Smed. “A ideia de eliminar o aluno com a retenção é um retrocesso. Aquele que tem dificuldade precisa ser acompanhado e estimulado a aprender, mas a bomba é um desestímulo. Tenho a esperança de que os professores não vão optar pela reprovação”, diz. O professor de Política Educacional da PUC Minas Carlos Roberto Jamil Cury ressalta que avaliações apontaram falhas na Escola Plural. “Criou-se a figura da reprovação automática, uma imagem muito ruim para essa metodologia.”

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Fonte:

http://www.uai.com.br/htmls/app/noticia173/2009/11/21/noticia_minas,i=136812/REPROVACAO+ESTA+DE+VOLTA+NAS+ESCOLAS+MUNICIPAIS+DE+BH.shtml

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