sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dia do/a Professor/a - 15/10

 15 de Outubro e o Rivotril
Prof. Wanderson Rocha
wprocha@ig.com.br
A maior expressão da angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não
Lobão / Bernardo Vilhena / Ivo Meirelles / Daniele Daumérie

Pensei em homenagear todas/os Professoras/es porém, neste ano, fiquei a me perguntar sobre o que escrever para as/os colegas de profissão. Ao procurar inspiração, comecei a refletir sobre as mensagens que recebi ao longo deste ano e as conversas no cotidiano escolar. Diante desta reflexão, cheguei à conclusão de que as nossas conversas e trocas de mensagens sempre remetiam ao cansaço, ao desânimo, à desilusão, à descrença e à decepção relacionada com as condições de trabalho e valorização profissional.

Atualmente, alguns estudos começaram a trazer como preocupação o adoecimento na Profissão Docente tendo como causas:
  • A responsabilidade em relação ao desempenho do aluno e da escola através da imposição de avaliações que preocupam-se com o fim e não com o processo de ensino-aprendizagem, sendo que o principal objetivo é o de classificar os alunos e aferir a capacidade produtiva das/os Professoras/es;

  • A perda de autonomia e aumento das atividades de trabalho em que a política de premiação das “escolas com melhores notas” obriga à intensificação de preparatórios para as avaliações externas (Língua Portuguesa e Matemática) deixando de lado a aprendizagem baseada no conhecimento científico, artístico e cultural das demais disciplinas e, principalmente, os projetos pedagógicos voltados para o crescimento Social e Pessoal do Ser Humano;

  • Além do elevado número de alunos por turmas, o desinteresse da maior parte das Famílias, indisciplina, escassez de formação continuada, falta de uma real política de inclusão escolar, baixos salários e etc.
Essas são algumas causas que agravam a cada vez mais o adoecimento docente, ou seja, trazem como consequências: Síndrome do Pânico, Síndrome de Burnout, Distúrbio Bipolar, Agorafobia, entre outras.

O título deste texto procura construir uma reflexão entre as/os colegas sobre até que ponto o 15 de outubro continuará sendo comemorado como um dia de reconhecimento da nossa profissão? Preocupa-me o Rivotril fazer parte do nosso cotidiano, bem como, a/o psiquiatra tornar-se a/o nossa/o confidente mensal. Não tenho dados científicos, porém, ouso, tendo como base o senso comum, a pensar que estamos a formar uma geração depressiva. Sinto como se tivesse a experimentar tal remédio, pois constantemente a discussão sobre depressão aparece nas conversas dentro da escola e em encontros entre os pares.

Talvez não escape ao fim trágico de controlar a ansiedade, a insônia e a frustração através do Rivotril, porém, continuarei a acreditar nos instrumentos da luta de classe. A nossa mobilização, a nossa utopia ou crença em defesa da valorização profissional dependerá unicamente da nossa organização e busca de aliadas/os para uma Educação Pública e de Qualidade.

Falo assim sem saudade,
Falo assim por saber
Se muito vale o já feito,
Mas vale o que será
Mas vale o que será

Milton Nascimento



Vídeo: Youtube.com

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